terça-feira, 24 de janeiro de 2017

CLÁUDIA ELEUTÉRIO E AS CINZAS DOS MORTOS


 

A artista plástica Cláudia Eleutério, ao lado de um quadro feito a partir das cinzas de sua avó.
Arte picto-crematória é a nomenclatura registrada pela artista plástica Cláudia Eleutério para nomear seu projeto que transforma as cinzas do processo de cremação em obra de arte. Foi pensada como uma forma de homenagear a vida, eternizando a memória de pessoas queridas através da pintura.


A técnica foi desenvolvida pela artista em 2003 e em seus primeiros experimentos foram utilizadas cinzas de boi. 
Antes de se iniciar a obra é feita uma entrevista com os parentes, para a escolha do tema e para coletar informações e características sobre a pessoa a ser retratada. A artista ainda busca referências em vídeos e fotos. Os temas podem variar desde um retrato, como também florais, paisagens e temas abstratos.
A tela pode ser feita sob medida em qualquer tamanho, mas não é recomendado muito pequenas. Recomenda-se telas a partir de 40X50, pois com a texturização ocasionada pelas cinzas, os detalhes são mais difíceis de serem trabalhados. Utiliza-se cerca de 300 gramas de cinzas, variando de acordo com o tamanho da tela e leva em média cerca de 30 a 45 dias para se produzir uma obra picto crematória.

Não é utilizado massa, areia, mármore ou outro tipo de elemento. A arte picto crematória de Claudia Eleutério é feita apenas utilizando a tinta a óleo e as cinzas.
Para que as cinzas não interfiram nas cores das tintas, a artista faz uma impermeabilização das cinzas, fazendo uso de produtos químicos, para que ocorra uma adição cromática as cinzas, deixando-as com suaves tons acinzentados. É feito também uma envernização e preservação das cinzas funerárias através de processo antifúngico.
Não é colocado nenhum tipo de cola para aderir as cinzas na tela. A própria impermeabilização e a tinta a óleo é que ajudam na aderência. No final é utilizado pó de ouro, com pinceladas sutis, em um pequeno pedaço da tela.

Algumas etapas do processo de criação de uma obra picto crematória não puderam ser revelados.

Assim como nos cemitérios que guardam em suas esculturas e obras arquitetônicas não apenas os restos mortais, mas tornam-se símbolos que remetem saudade, lembranças e também preservam a história em um museu a céu aberto, a tela na arte picto-crematória torna-se uma urna que armazena com segurança as cinzas e preserva a memória de um ser, um ente especial, onde suas cinzas são preservadas numa paleta de cores que eterniza uma história numa obra original e personalizada.
Ateliê Selma Antunes.

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